quarta-feira, janeiro 06, 2010


A bênção do sofrimento

Existem duas forças iguais entre si, lutando em um ringue cósmico. No centro deste ringue, encontra-se o coração do ser humano. Deus e o diabo lutam eternamente entre si, para ver quem conquistará o coração humano. Nesta compreensão dualística do universo, os evangélicos dividem tudo o que existe entre bom e mal.

Com base nesta compreensão, tudo é catalogado como bom ou mau. O que é bom vem de Deus. O que é mau, vem do diabo. Nesta luta cósmica, há a associação de todo mal como algo dirigido pelo diabo, incluindo aí, o sofrimento. É um tal de “amarrar” as ações do diabo, “repreender” o tinhoso e culpá-lo por todo o sofrimento existente na face da terra, como se o ser humano fosse um simples fantoche sendo humilhado e envergonhado por ele. O evangélico, perde mais tempo em oração com o diabo, do que em intimidade com Deus.

Entretanto, biblicamente, o sofrimento não é, necessariamente, algo ruim.

O sofrimento nos amadurece.
O sofrimento nos prepara para o futuro.
O sofrimento nos coloca em nosso devido lugar.
O sofrimento nos mostra o quanto precisamos de Deus.
O sofrimento nos lembra de nossa fragilidade.
O sofrimento nos lembra de nossa maldade.
O sofrimento nos devolve a lucidez.
O sofrimento é uma bênção.

Antes que alguém se escandalize, julgando-me como algum masoquista, leia o que Jó falou para sua esposa, em meio ao seu sofrimento: “Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?” (Jó 2.10 - NVI). O sofrimento é bom.


O sofrimento faz parte da vida humana. A dor é um mecanismo de defesa, que indica que as coisas não estão bem.

Muitas personagens bíblicas tiveram seus sofrimentos narrados. Adão, Jó, Caim, Davi, Paulo, Pedro. Alguns deles conseguiram encarar o sofrimento como bênção, por isso, continuaram suas vidas. Outros, ficaram paralisados por seus medos e dores. Ficaram pelo caminho. Até mesmo o Senhor Jesus passou por sofrimentos.

Vários textos na Palavra de Deus enfatizam os sofrimentos como provas, como oportunidade de crescimento. Talvez o mais conhecido dos textos bíblicos sobre sofrimento é o livro de Jó. No início de seu livro, quando ele é avisado sobre a morte de seus filhos e seu próprio corpo é coberto de feridas, sua esposa lhe dá a brilhante ideia de amaldiçoar a Deus e morrer. Neste contexto, Jó responde-lhe: “Você fala como uma insensata. Aceitaremos o bem dado por Deus, e não o mal?” Em tudo isso Jó não pecou com os lábios, continua o texto.

Alguns evangélicos com certeza se manifestarão: “Mas o diabo foi o causador de todo o sofrimento de Jó! Como isso pode ser bom?” A resposta, pode ser encontrada no próprio contexto deste versículo: O Senhor disse a Satanás: “Pois bem, ele está nas suas mãos; apenas poupe a vida dele”. (Jó 2.6 - NVI). O sofrimento na vida de Jó só aconteceu, em função da soberania de Deus. Para satanás agir na vida de Jó, foi necessário o consentimento divino. Em vez de orarmos repreendendo o diabo, deveríamos orar repreendendo a nós mesmos! A narrativa de Jó conclui de forma espetacular sobre como o sofrimento acordou Jó de seu sono religioso, onde julgava-se ser alguém bom: “Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram. Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza.” (Jó 42.5-6 - NVI).

Muitos dos Salmos também descrevem a agonia da dor e do sofrimento, mas a esperança da certeza do cuidado de Deus, como por exemplo, o Salmo 30. Neste salmo, o autor convida os leitores a, apesar do sofrimento, não manterem-se aprisionados pelas circunstâncias, mas manterem os seus olhos em Deus: “o choro pode persistir uma noite, mas de manhã irrompe a alegria.” (Salmo 30.5 - NVI).

No Novo Testamento, encontramos Paulo, então Saulo de Tarso, perseguidor implacável da igreja iniciante, aprisionando e matando cristãos, passando por um abençoado sofrimento no caminho a Damasco, sendo acometido de cegueira, para então, poder realmente enxergar (Atos 9.1-19). Além do episódio na vida de Paulo, vemos, também, que a igreja iniciante sofria intensa perseguição. Apesar disto, ela crescia diante do Senhor (Atos 8.1-4).

Conclusão

O sofrimento é uma bênção. Precisamos entender que o sofrimento nos desperta da grave tentação de cuidarmos de nós mesmos. O sofrimento é utilizado por Deus para nos trazer alívio da ilusão de que a vida necessita ser perfeita. O sofrimento é uma bênção, pois nos desarma diante de Deus.
Além disto, o sofrimento nos alivia da tentação de adorarmos a um “deus-tabajara” (seus problemas acabaram), e nos liberta a nos entregarmos inteiramente ao Deus que ainda permanece no controle de todas as coisas, que tem cuidado de nós e continuará cuidando de cada aspecto da nossa vida. Por isso, podemos em fé e esperar por Ele! Somente nEle!

Pr. Eugênio Anunciação

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