quarta-feira, fevereiro 10, 2010


Por que os pombos fogem?
O que de fato ocorre?

Não em todas, mas em muitas igrejas “de hoje” observa-se um movimento de pessoas chegando, pessoas gostando, pessoas ficando, pessoas virando membros, e depois, boa parte delas frequentando as reuniões da igreja na base do “de vez em quando”, quando der, se der. Enfim, peixe sendo tirado do mar, mas ficando na praia, sem avançar terra adentro, sem ser colocado para trabalhar e servir. Superficialidade.

O que motiva tal coisa?

Duro de analisar! Vários fatores podem contribuir para este relacionamento superficial, e não tenho eu a mínima pretensão de aqui nomear a todos. Muito menos crer que um deles é o primordial. A cada doença um diagnóstico; a cada doente um remédio. Mas eu lhe convido a vir comigo de passagem por alguns fatores, que podem ser incluídos na lista dos “possíveis”. E me permita seguir com a figura dos pombos. Afinal, convenhamos, muitas vezes nós nos comportamos como eles.

1) os “pombos” creem que a igreja salva

Características de uma cultura luso-ibérica-romana, muitos se achegam à igreja de Deus, mas não ao Deus da igreja. Fruto de uma tendência muito antiga de uma igreja que vende suas indulgências, que ensina que é dando (ofertas para ela, a instituição) que se recebe (bençãos na vida). Diante da escolha entre espiritualidade (uma relação íntima com um Deus que ainda não se vê) e religiosidade (a observância de algumas “regras” impostas por algum “sacerdote” que se pode ver), os pombos escolhem o caminho aparentemente mais fácil: o segundo. Basta que apareçam “de vez em quando”, que contribuam aqui e alí, que sejam do rol de membros, e que não aprontem nada mais “cabeludo”. Tudo estará bem com o homem lá em cima (é o que talvez creiam).

2) os “pombos” se assustam

Também chamada de “síndrome do irmão do filho pródigo”, os mais antigos da igreja querem logo transformar os recém-chegados ou em doutores da lei, ou em fiéis cumpridores dos preceitos por eles estabelecidos. Tem sérias dificuldades em aceitar o “jeitão” dos novos pombos, seu jeito de vestir e falar, ainda isento das expressões de evangeliquês. Em vez de investir em um autêntico crescimento dos novos na vida cristã, querem logo cobrar deles um comportamento cheio de santarrices nem sempre embasadas nos preceitos de Deus.

Outra dificuldade surge quando os novos, ainda embebidos de todo primeiro amor e euforia típicos de quem acabou de ser salvo, chegam querendo ajudar em tudo, a fazer de tudo, a sugerir um monte de coisas. Só que ao faze-lo esbarram nos antigos, que se julgam donos dos poleiros do pombal. Jogam verdadeiros baldes de água fria no ânimo dos novos ao dizer que quem manda por lá são eles. Em vez de acolher, assustam.
3) os “pombos” correm atrás da moda

Estou falando aqui dos pombos migratórios, daquela leva que vem e vai de um pombal a outro, sempre buscando o pombal que está mais na moda. Se a sua igreja é um pombal que oferece música melhor, ponto para você. Se a pregação for daquelas que gera comentário para toda uma semana, mais e mais pontos. Junte mais alguns (programação para pombinhos desde a mais tenra idade, bom estacionamento, instalações confortáveis) e seu pombal pode até virar um “point”. Pena que acaba atraindo muitos pombos-consumidores, que estão longe de se assemelhar aos pombos-trabalhadores. Os primeiros frequentam; os últimos são a igreja. Na hora da festa, todos lá (uns trabalhando, outros usufruindo e/ou até reclamando). Na hora da dureza, revoada dos migratórios. Lá se vão eles a procura do novo “point”.

4) os “pombos” ficam com fome

Religiosidade vazia não enche a barriga de ninguém. E uma espiritualidade superficial também não. Há igrejas por aí que são extremamente acolhedoras, receptivas e convidativas. Pregam o evangelho como poucas. Acolhem mais e mais “pombos” no pombal, mas depois de terminada a festa de chegada é hora de dar de comer a todos. E o discurso inicial não mais resolve. Há que se deixar o leitinho para os novos, e há que se dar alimento sólido a quem quer crescer. E quando o que há na despensa é só comida de bebê...?

Na solução deste problema, muitas igrejas digamos, acolhedoras mas pouco mantenedoras, adotaram o modelo do discipulado. “Vamos fazer discipulado!” “Vamos comprar uns livros de doutrina básica, e vamos criar grupos para estuda-los! Quem quer dar aula?”

E por aí vão, criando grupos e mais grupos de estudo, mas que ficam todos na mesma. Afinal, Deus mandou que fizéssemos discípulos, não discipulado! O discipulado verdadeiro é algo onde alguém passa vida a outro, experiência de vida com Deus, ensinando “na prática” o que é pra ser feito. Quando o discipulado é apenas teórico, onde se ensina o que deve ser feito mas ninguém está lá para dar o exemplo, como querer resultado concreto? Quando o discipulado vira “cursinho de catecismo”, só se está construíndo uma fachada aparentemente boa para que se esconda um quadro de doença.

Enfim, igreja é um lugar onde os mais velhos precisam repartir vida com os mais novos, alimentando-os. Veja bem, vida, não conhecimento. Se não há vida de fato para ser repartida, como querer que os pombos não voem atrás de alimento?

5) são “pombos” passageiros mesmo

Jesus mesmo predisse que muitos seriam chamados mas poucos os escolhidos. E pela parábola do semeador deixou claro que nem todos são semeados em terreno fértil. Há os que caem à beira do caminho, que crescem entre os espinhos, ou que caem em solo raso.


Que Deus nos mostre o que fazer. Que nós, os que nos julgamos “pombos velhos”, sejamos instrumento de Deus para crescimento de Seu reino. Crescimento mesmo, pois Ele disse para sairmos por aí, pregando o Seu evangelho, fazendo discípulos de todas as nações, batizando-os em nome Dele e ensinando-os a guardar todas as coisas que nós (supostamente) já aprendemos e guardamos. E Ele estará conosco nessa empreitada.


Carlos sider

2 comentários:

  1. Achei muito bom o texto, é verdade que há hoje muito troca nas igrejas, por outro lado, eu vejo que uma coisa que muito falta hoje é ser discipulado, uma vez fui convidada por uma pastora pra fazer parte das 12 delas, por que ela teria que ter 12, e todas queriam ficar no grupo das pastoras, imagina era uma "honra", mas pra mim não era pelo menos com essa pastora, ela não gostava de mim, e deixava isso bem claro... mas enfim nao vem ao caso: mas qdo ela chegou pra me convidar, ela falou: Olha mas não vamos andar pra resolver teus problemas, é pra ensino somente.
    Eu fiquei olhando pra ela atônita, pq quem nao quer ouvir questoes pessoais das pessoas como poderá andar com ela.
    Até entendo que na época eu estava passando por muitas transformações e tava pra lá de melancólica...
    E também hoje eu vejo tanto mal exemplo, mal testemunhos e isso faz com que percamos a autoridade em discipular.
    O discipulador não tem que ser perfeito, mas tem que ser exemplo.
    Por que assim como copio os meus discipuladores, sou copiada...
    bjus

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  2. é verdade querida! Também penso assim, acho que discipular é como Jesus fazia. Andar junto, ensinar, ouvir, aconselhar quando necessário, mas o mais importante é mostrar com exemplo.
    Se as pessoas não virem em mim, aí é só teoria!

    Bjus, fica no amor do Eterno!

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